O Afeganistão segue formando seu novo governo em Kandahar para encarar desafios mais significativos

Trad. Alan Dantas
Os EUA destituíram o movimento Talibã do poder em 2001 apenas para se retirarem vinte anos depois, em uma devolução no dia em que o último soldado americano deixou o Afeganistão – pouco depois da meia-noite, horário local, no dia 31 de agosto. As Forças Especiais do Talibã, “Badri 313”, assumiram o controle da parte militar do aeroporto de Cabul após a partida das forças norte-americanas – que destruíram ou desmilitarizaram os aviões que não puderam levar com eles. O Afeganistão está vasculhando os escombros das sangrentas guerras que o têm dilacerado por décadas. No entanto, a retirada militar ocidental da Ásia Central não significa o fim dos problemas do Afeganistão. O Talibã expulsou as forças ocidentais e descobriu um Estado em colapso corroído pela corrupção, pela pobreza e a falta de infraestrutura na maioria das 33 províncias. O Talibã está se preparando para formar seu novo governo após a maratona de reuniões em Kandahar. Espera-se que o novo governo enfrente o desafio de interligar o Afeganistão com os países vizinhos e o resto do mundo, inclusive estabelecendo relações com seu ocupante anterior, os Estados Unidos da América.

Quando o Talibã estava no controle de Cabul nos anos 90, o mulá Muhammad Omar não precisava de muitos guarda-costas para protegê-lo. De fato, ele desfrutou de amplo apoio em muitas partes do país, incluindo a capital, Cabul. O Emir Talibã recusou-se a entregar Osama bin Laden (apesar de saber que esta recusa lhes custaria caro) porque ele era um convidado, o que constitui uma posição privilegiada nesta parte do mundo para muitos líderes tribais. Entretanto, mulá Omar advertiu repetidamente a Al-Qaeda, mas sem ter cumprido, após o grupo ter atacado as embaixadas dos EUA no Quênia e na Tanzânia e o destroyer americano Cole, em Aden (Iêmen). Após anos de dispendiosa ocupação americana, o movimento Talibã descobriu as fronteiras e concordou com a Al-Qaeda em proibir ações militares contra qualquer país limítrofe, próximo (fronteiriço) ou distante do território afegão.
Até 2001, o mundo reconheceu que o Talibã havia conseguido acabar com o cultivo do ópio. Entretanto, a ocupação americana transformou o Afeganistão em um Estado fracassado política, econômica e socialmente, onde a corrupção e o cultivo de drogas se espalharam e até dobraram.

Os EUA planejavam ocupar o Afeganistão por duas razões: eliminar a Al-Qaeda e estabelecer a democracia. Ambos os objetivos fracassaram após anos de guerras sangrentas, deixando o país em um estado de devastação econômica. Entretanto, a retirada dos EUA não significa o fim de sua influência no Afeganistão. Os Estados Unidos estão bastante preparados para pressionar o governo talibã usando o pretexto de “ajuda humanitária e médica” – que o Afeganistão precisa desesperadamente e que o Talibã teria dificuldade em recusar. 

O Talibã convocou uma reunião em Kandahar que incluiu os principais líderes. Estão presentes o chefe de reconciliação nacional Abdullah Abdullah, representantes do ex-presidente Hamid Karzai, de Hazaras em Mazar-i-Sharif, oficiais da província de Panjshir (com quem as negociações entre Ahmad Masood e o Talibã parecem chegar a um beco sem saída) e outros líderes tribais e oficiais influentes que tiveram papéis diferentes em governos anteriores. Pela primeira vez, o líder e emir do Talibã, Mullah Hubatulah Akhundzada, e seu adjunto, Mullah Muhammad Yaqoub (filho do Mullah Muhammad Omar, que morreu em 2015 e era líder e emir do Talibã desde os anos 1990), estiveram presentes na reunião, juntamente com um grupo dos líderes de mais alto nível do Talibã.

A reunião está acontecendo há vários dias em Kandahar, a capital do Talibã e seu principal reduto, com a intenção de formar um governo, que poderia ser anunciado antes do final desta semana, de acordo com fontes privadas do Talibã.

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