Pegar ou largar: Ou EUA saem de Al-Tanf, ou Hezbollah e Irã, com Síria, libertam o sul da Síria.

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Blog do Alok

segunda-feira, 4 de junho de 2018

Por Elijah J. Magnier

3/6/2018, Elijah J. Magnier Blog

Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu

Rússia e Damasco (e aliados) construíram um plano para que o Exército Árabe Sírio liberte o que resta do sul da Síria – Qunietra e Daraa. O acordo será discutido essa semana entre altas autoridades (vice-ministros) dos establishments de Rússia, EUA e Jordânia, com Damasco e Teerã a louvar os esforços e o talento dos russos para a negociação. O plano é bem claro: ou os EUA saem da passagem de fronteira em Tanf, ou não haverá acordo, e o Exército Árabe Sírio requererá o apoio de seus aliados para libertar o sul. A bola foi mandada para o campo dos EUA, e Washington que resolva. Ou decide ir à guerra ao lado de Israel contra as forças de Damasco no sul, ou retira suas forças de ocupação da passagem Tanf na fronteira sírio-iraquiana.

O Exército Árabe Sírio está reunindo forças para libertar o último bolsão ao sul da capital Damasco onde o ISIS (sob o rótulo de Jaish Khaled Bin al-Waleed) e outros jihadistas e aliados ocupam a parte do sul da Síria na fronteira Israel e Jordânia. Damasco e Amã querem que o Exército Árabe Sírio retome o controle das fronteiras e reabra a passagem de Naseeb para restaurar uma das principais fontes de renda dos dois países.

Paralelamente, Israel volta-se para a Rússia – não para os EUA – pedindo garantias de que o Irã e o Hezbollah não estabelecerão bases nas fronteiras; Israel quer evitar a situação na qual as fronteiras sírias possa ser usadas como plataforma para atacar Israel no futuro.

Rússia, Síria e Irã todos concordaram quanto ao próximo passo a ser dado para libertar o sul, de modo a satisfazer todas as partes. As demandas israelenses, de que só haja o Exército Árabe Sírio em suas fronteiras, não serão atendidas ‘gratuitamente’: o preço a ser pago é a passagem de fronteira em al-Tanf atualmente ocupadas por forças dos EUA.

Forças dos EUA também ocupam parte do nordeste da Síria e a principal passagem comercial de fronteira entre Iraque e Síria (al-Tanf). Na verdade, não há benefício direto para os EUA com manter forças na Síria – exceto apoiar Israel –, e o controle da passagem só serve: (i) ou para dar passagem a milhares de militantes que o Pentágono treina para atacar territórios sírios (sem qualquer serventia estratégica); ou (ii) para criar meios para conter o andamento da economia síria.

Por isso a Rússia e seus aliados esperam que Telavive pressione Washington para que retire suas forças da passagem de al-Tanf, em troca da “paz de espírito” nas fronteiras, para Israel.

Contudo, há aqui vários cenários possíveis:

  1. Israel aceita o trato e pede que EUA liberte a passagem de fronteira sírio-iraquiana. O Exército Árabe Sírio assumirá controle do sul, atacando jihadistas e aliados deles.
  1. Israel recusa: o Exército Árabe Sírio atacará os jihadistas e aliados deles. Se Israel reage e bombardeia as forças atacantes, Damasco e aliados já estabeleceram nova Regra de Engajamentoe retaliarão contra alvos nas colinas ocupadas do Golan e adiante. O risco de guerra entre Israel e Hezbollah-Irã é alto. O front interno em Israel estará pronto para guerra mais ampla?
  1. Israel e EUA sobem as demandas e exigem a retirada de todas as tropas iranianas da Síria: para a Rússia, é demanda impossível de atender. O Irã tem bases na Síria desde que o falecido presidente Hafez Assad permitiu que o Corpo de Guardas da Revolução Islâmica (CGRI) apoiasse a resistência libanesa contra a invasão por Israel em 1982. Além disso, a Síria pediu o apoio do Irã e aliados do Irã em 2013, mais de dois anos antes da chegada dos russos. E Teerã e Damasco – ambos membros do “Eixo da Resistência” (Síria, Irã, Hezbollah) – coordenam todas as ações e decisões relacionada à guerra na Síria: como conduzi-la e que resultado político buscar. Essa harmonia não é idêntica à que há entre Moscou e Damasco. Assim, a Rússia não está em posição de pedir ao governo sírio que imponha uma retirada dos iranianos, por um preço que o Exército Árabe Sírio pode impor, só ele, Israel concorde ou não.

Implica dizer que Israel tem espaço limitado para manobrar: partir para uma batalha de consequências imprevisíveis contra o “Eixo da Resistência” e forçar o presidente Bashar al-Assad a ação mais agressiva para realmente ferir Israel, saindo da posição defensiva, para uma posição ofensiva.

Em sua mais recente entrevista, Assad disse que sua única opção seria “melhorar a defesa aérea, é a única coisa que podemos fazer e estamos fazendo”. Para o “Eixo da Resistência” é pura atitude defensiva, que não corresponde necessariamente ao modo como Israel tem de ser enfrentado. Irã e aliados gostariam de mostrar a Israel atitude mais agressiva, levando a batalha ofensiva até muito além do ponto que Assad atualmente deseja. Nesse caso, só Israel ganha com ter só o Exército Árabe Sírio no Golan ocupado pelos israelenses e na linha de demarcação de 1974.

Há diferenças no modo como a Rússia está trabalhando o dossiê sírio com seus aliados próximos, atenta a não forçar ou agredir relacionamentos existentes. A Rússia gostaria de avançar na reconciliação política o mais rapidamente possível, pedir a Damasco que reescreva a Constituição e ver os EUA fora de Tanf, de modo que as forças de ocupação (EUA e Turquia) fiquem concentradas no norte.

Damasco não pedirá – hoje – que Irã e aliados do Irã retirem-se, a menos que já não haja qualquer perigo. O governo tem intenção de revisar (Moscou sempre fala de “reescrever”) a Constituição, buscando a retirada de todas as forças estrangeiras de ocupação.

Independente de se os israelenses ‘terão coragem’ de perguntar à Síria quais as forças que Israel poderia manter em território sírio e quais têm de sair, certo é que ambos – a Rússia e o “Eixo da Resistência” querem a libertação do sul, e podem sim pedir ao Irã e ao Hezbollah que se mantenham longe das fronteiras. O “Eixo” parece muito confortável com a ideia de deixar o sul da Síria, confiante de que as forças sírias locais estão hoje – depois de mais de sete anos de guerra –, muito bem equipadas com farta experiência de combate e ideologia firme para trilhar caminho idêntico ao do “eixo”, no que tenha a ver com a animosidade contra Israel. Mas a cabeça dos EUA em al-Tanf, numa bandeja, é a parte não negociável do preço.*******

Postado por Dario Alok às 18:47 

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Marcadores: Elijah J. Magnier, EUA, Geopolítica, Guerra da Síria, Hezbollah, Irã

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