A guerra não terminará com o controle russo da Ucrânia: é só o começo

Elijah J. Magnier

Trad. Alan Dantas

“É hora de devolver as armas nucleares americanas na Europa de volta aos Estados Unidos”. O Ministro das Relações Exteriores russo Sergei Lavrov resumiu o roteiro russo para além da Ucrânia com estas palavras. Isto significa que a batalha russa começou porque a América tem forças nucleares estratégicas em bases da OTAN espalhadas pelo continente europeu, incluindo a Turquia (que possui cinquenta bombas nucleares na base de Incirlik sob “controle” dos EUA). Aparentemente, todas as opções à frente são muito mais desafiadoras e complexas do que a “simples” guerra contra a Ucrânia porque os países que a Rússia disse que deveriam ser desnuclearizados são membros da OTAN.

A Organização do Tratado do Atlântico Norte foi criada em 1949 pelos EUA, Canadá e outros países europeus para proporcionar segurança contra a União Soviética e combater o comunismo. Em reação à integração da Alemanha Ocidental na OTAN em 1955, foi criado o Pacto de Varsóvia (União Soviética, Albânia, Bulgária, Tchecoslováquia, Alemanha Oriental, Hungria, Polônia e Romênia). Após o fim da Guerra Fria entre os soviéticos e os EUA, o Pacto de Varsóvia foi dissolvido, mas a OTAN não o foi. Vários ex-membros do Pacto aderiram à OTAN após março de 1999, apesar das promessas (que não eram tratados nem acordos assinados) dadas por autoridades ocidentais, principalmente os EUA, de que a OTAN não se expandiria “um centímetro para o leste”.

A Rússia passou as últimas duas décadas construindo sua força e acreditava estar pronta para enfrentar os EUA, pedindo-lhe que abandonasse sua expansão de armas nucleares nos países europeus da ex-União Soviética. A OTAN afirma que pretende defender seus membros e proteger os aliados europeus contra ameaças de mísseis fora da área euro-atlântica. Entretanto, o Conselho de Segurança da ONU não autorizou a ocupação americana do AfeganistãoIraqueLíbiaIêmen e Síria. Os EUA (e seus aliados) não dão atenção nem precisam de autorização para usar sua força letal em qualquer parte do mundo. Portanto, a OTAN só pode ser uma base avançada dos EUA na Europa que mantém os líderes europeus dentro de seu “clube” sob controle e se mobilizando por trás dos objetivos dos EUA. De fato, os EUA – convenientemente – evocarama doutrina de Monroe de 1823, dizendo aos países europeus como lidar com seus assuntos externos. Devido à política expansionista dos EUA na Europa, a Rússia decidiu que tem o poder e vai usá-lo para detê-lo antes que seja tarde demais.

Não é difícil determinar se o Ministro Lavrov está elevando o teto das exigências russas ou se está levando a sério as insistentes exigências da Rússia para o desarmamento dos EUA de dezenas de bases espalhadas pela Europa. De fato, isto se encaixa nas exigências do Presidente Vladimir Putin, que solicitou, antes do início da guerra, que a OTAN retornasse ao que era antes de 1997, ou seja, com apenas 12 membros e a saída dos 16 membros (excluindo a Turquia) que aderiram posteriormente, a partir de 1999 e até 2020.

Não está claro como o Presidente Putin pretende implementar seus objetivos, mesmo que pareça sério. Assim, ele pediu que sua força nuclear estratégica estivesse totalmente preparada em resposta ao chamado do Ocidente para armar a Ucrânia e fornecê-la mais armas para prolongar a guerra.

É de se notar pelas declarações dos líderes russos que estão totalmente preparados para o confronto e a solidariedade por trás do Presidente Vladimir Putin, ao contrário do que deseja o Presidente Joe Biden. Os EUA estão tentando mostrar a guerra como se fosse uma decisão de uma só pessoa, o presidente russo, como fizeram os presidentes anteriores dos EUA no Iraque (Saddam Hussein) e na Síria (Presidente Bashar al-Assad). A terminologia “regime de Putin” é agora amplamente utilizada.

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