
Elijah J. Magnier
Trad. Alan Dantas
O Irã anunciou que construiu mísseis balísticos hipersônicos, um salto de desenvolvimento capaz de atingir qualquer alvo e que não pode ser interceptado por nenhum sistema de defesa antimíssil no mundo. Assim, a “República Islâmica” informa ao mundo que está bem equipada com capacidade dissuasora adequada contra qualquer força disposta a desafiar a segurança nacional iraniana, principalmente os EUA e Israel. Mas este desenvolvimento avançado na capacidade de mísseis não poderia ter ocorrido sem o apoio da Rússia, o que só pode ser uma mensagem clara diretamente relacionada com a guerra na Ucrânia. Quais são estas mensagens que a Rússia quer enviar através do Irã?
O Irã criou um sistema sofisticado de cidades subterrâneas, armazenamento e túneis subterrâneos complexos onde seus mísseis e drones são armazenados em diferentes partes do país. Algumas delas foram mostradas através da mídia. Também revelou sua eficiência de mísseis alados através de ataques de longa distância que realizou contra alvos na Síria para atingir os grupos terroristas do “Estado Islâmico” e no Iraque contra os grupos terroristas do Mossad e curdos. Além disso, o Irã foi um contribuinte-chave para armar a Rússia com os tão necessários drones durante a guerra na Ucrânia, o que só confirma a extensão do desenvolvimento do Irã em defesa, ataque e tecnologia militar.
Entretanto, a posse dos mísseis hipersônicos – anunciada pelo comandante aeroespacial da Guarda Revolucionária, General Amir Ali Hajizadeh – está longe de ser apenas o trabalho e descoberta do Irã. A Rússia revelou o primeiro míssil hipersônico Tsirkon em 2018, que os EUA só anunciaram pela primeira vez em testes em outubro de 2021.
Estes mísseis hipersônicos têm a capacidade de manobrar e escapar em grande medida das defesas terrestres enquanto voam, tornando-os praticamente impossíveis de interceptar. É por isso que os EUA decidiram gastar US$ 1,3 bilhões – em cooperação com a Grã-Bretanha e Austrália – para monitorar estes lançamentos de mísseis, alterando sua trajetória, calculando a nova direção e fornecendo dados para a equipe dos interceptores para confrontá-los. As empresas americanas estão programadas para produzir 14 novos satélites, seguidos por outra produção de 28 satélites e um terceiro grupo de cerca de 54 satélites para monitorar mísseis hipersônicos que atingem velocidades entre Mach 5 e 20 (Mach é a velocidade do som de cerca de 1235 km /hora).
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Os Mísseis Balísticos Intercontinentais (ICBMs) excedem em muito o nível de Mach 20 . Entretanto, sua trajetória fora da órbita da Terra pode ser calculada, interceptada e destruída quando lançados em uma trajetória de arco previsível. Os mísseis hipersônicos modernos são projetados em um curso baixo, ajustam sua velocidade durante o voo, e podem atingir seu alvo mais rapidamente. A vantagem deste míssil é a capacidade de controlá-lo em voo, o que torna mais desafiador rastreá-lo e destruí-lo antes de atingir o alvo se ele estiver distante. São atualmente imparáveis quando ainda próximos à plataforma de lançamento.
Em abril passado, a Rússia testou o míssil hipersônico Kinzhal na Ucrânia, tornando-se o primeiro país a usar este míssil e incluí-lo no estoque militar. A China também revelou sua produção de mísseis hipersônicos, tornando o Irã o quarto país depois da Coréia do Norte. Todos os quatro países desafiaram a hegemonia e o unilateralismo dos EUA, anunciando a posse desses mísseis.
Fontes oficiais iranianas disseram que “o contínuo armamento da Ucrânia pelos EUA e pelas nações da OTAN não teria ficado impune pela Rússia. Isto também se aplica ao apoio militar e de inteligência que Israel oferece à Ucrânia e sua posição aberta contra Moscou. Foi provado às autoridades russas que o Irã não mudou sua posição em relação aos EUA, não hesitou em ficar ao lado da Rússia, lutou com ela na Síria e não a abandonou em sua guerra contra os EUA e seus aliados”.
A fonte não confirmou nem negou a cooperação da Rússia com o Irã no desenvolvimento de mísseis hipersônicos. Entretanto, a colaboração entre o Irã e a Rússia está aumentando em diferentes campos. Mais recentemente, um acordo de cooperação energética no valor de 44 bilhões de dólares foi assinado com a Gazprom na área competitiva de projetos de gás liquefeito e o desenvolvimento de sete campos de petróleo e gás. O Irã confirmou assim sua mudança em direção à Ásia, virando as costas para o Ocidente.
No ano passado, o Irã assinou contratos e investimentos com a China, que concordaram em elevar o nível de investimento para US$ 400 bilhões nos próximos vinte e cinco anos. Pequim se comprometeu a desenvolver comunicações, portos, sistemas bancários, ferrovias, saúde e tecnologia em troca do petróleo mais barato de Teerã. A cooperação do Irã com a China, Coréia do Norte e Rússia também está aumentando sua capacidade militar e defensiva.
Os líderes israelenses não podem mais ameaçar atingir o Irã – que tem cerca de 3.000 mísseis balísticos capazes de atingir Tel Aviv – sem consequências graves em caso de guerra. Isto também se aplica aos EUA, que tem dezenas de bases militares no Oriente Médio, todas dentro do alcance dos mísseis iranianos. O Irã bombardeou a base da Força Aérea dos EUA na base Ain al-Assad no Iraque em 2020 e 16 mísseis de precisão atingiram as instalações e a pista dos EUA. Se o Irã tivesse então usado mísseis carregando mais de 1.000 libras de explosivos em suas ogivas, eles teriam destruído 20 a 30 aeronaves e, como disse o general americano Frank McKenzie, mataram de 100 a 150 soldados sem evacuação que teria ocorrido horas antes do bombardeio.
Esta notícia é sem dúvida um duro golpe irano-russo contra a aliança israelo-americana. É uma mensagem russa para Israel e o Ocidente que violou as regras de engajamento e se juntou ao campo oposto na Ucrânia. Israel uniu-se ao Centro de Controle EUCOM-NATO na base da USAir em Ramstein, Alemanha, para administrar a logística, a inteligência e comandar a batalha na Ucrânia para derrotar a Rússia. O Kremlin parece certamente não usar mais luvas, e está aumentando e diversificando seu apoio ao Irã em diferentes campos, pronto para desafiar os EUA e Israel.
O alcance do confronto entre a Rússia e os EUA se ampliou e é, por enquanto, irreparável. Não há dúvida de que os mísseis hipersônicos não estão longe de estar envolvidos nesta batalha entre as duas superpotências. A questão é: que outras surpresas a Rússia está preparando para os EUA, e onde? Ou será apenas um aviso para os EUA e Israel do que a Rússia é capaz quando realmente decide armar os inimigos dos EUA e de Israel? O compartilhamento da tecnologia avançada russa com o Irã está contribuindo para convencer o presidente americano Joe Biden a parar sua guerra com o presidente russo Vladimir Putin?
Há mais por vir.
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