
Por Elijah J. Magnier: @ejmalrai
Traduzido por: Alan Regis Dantas
Novas organizações anônimas no Iraque ameaçam atacar as forças dos EUA se recusarem a se retirar do Iraque. Uma dessas novas organizações divulgou seu primeiro vídeo comprovável de um ataque contra um comboio militar dos EUA transportando veículos na estrada entre a província curda de Erbil e a província de Salahuddin, no norte, onde os EUA mantêm grandes bases militares.
O embaixador dos EUA, Matthew Tueller, se reuniu com o primeiro-ministro interino Adil Abdul-Mahdi, expressando o desejo de seu país em iniciar negociações estratégicas com Bagdá. Os EUA não divulgaram que o diplomata do País informou Abdul-Mahdi sobre a intenção dos norte-americanos de retirar tropas do Iraque e seu pedido para não ser atacado durante a retirada dessas forças. É verdade que os EUA já evacuaram forças de seis bases e centros de controle em diferentes lugares do Iraque. Foi isso que levou o Hezbollah iraquiano do Kataeb (Brigadas) a anunciar que a organização não pretende atacar as forças americanas desde que se retirem completamente do país.
No entanto, a resistência iraquiana não confia nas promessas americanas encaminhadas ao primeiro-ministro e acredita que os EUA estão manobrando para redistribuir forças das bases mais vulneráveis para as bases mais protegidas. Esse ceticismo empurrou nova resistência iraquiana para a superfície e iniciou ataques contra as forças dos EUA de uma maneira que lembra a organização da “Jihad Islâmica” dos anos 1980 no Líbano, responsável pelo seqüestro e matança de oficiais e cidadãos dos EUA.

A primeira organização recém-emergida se identificou como “A Liga Revolucionária” (Usbat al-Thaereen). Em seu primeiro comunicado, mostrou fotos de drones com excelente resolução da embaixada dos EUA em Bagdá em todos os seus detalhes, construção, helicópteros, movimentação de pessoal e forças militares em seu interior. O que chama a atenção não são apenas os detalhes e a alta qualidade das imagens dos drones, mas como um drone conseguiu voar por longos minutos sobre os edifícios mais vigiados da capital iraquiana. Esses prédios abrigam três brigadas do exército iraquiano (6, 11 e 17), a brigada antiterrorista, a sede da polícia federal, o Ministério do Interior e a polícia local. As forças dos EUA estão posicionadas no aeroporto de Bagdá (não muito longe) e dentro da Embaixada.
Não apenas isso, um segundo vídeo foi distribuído à imprensa alguns dias depois com imagens de drones da maior base militar dos EUA no Iraque, na base de Ein al-Assad, no deserto de Anbar. O vídeo mostrava depósitos de armas, prédios, torre e base de comando e controle, hangares, pistas de pouso e decolagem e muitos mais detalhes de todo o mapa da base, apesar da implantação nos EUA do radar mais sofisticado, dos mísseis Patriot e outros sistemas de defesa que deveriam proteger a base.
Além disso, o vídeo foi transmitido também de fora da base, mostrando a condução de um carro ao longo das paredes da base americana em Ain al-Assad, o que indica a facilidade de movimento do grupo, sem levar em consideração as medidas de segurança implementadas ao longo da estrada.

A organização transmitiu uma música entusiasmada afirmando seu objetivo de vingar o assassinato do general Qassem Soleimani e do líder iraquiano Abu Mahdi AlMuhandis. O dialeto do cantor indica que ele não é iraquiano, embora seja claramente um falante árabe.
Outra nova organização chamada “A resistência islâmica no Iraque – Povo da caverna” (referindo-se a Surat al-Kahf no Alcorão) publicou um vídeo no qual mostrava um Dispositivo Explosivo Improvisado (IED) explodindo em um comboio que transportava veículos militares e, um minuto depois, um segundo poderoso IED explodiu quando o pessoal do comboio se reuniu para avaliar os danos. Dizem que o comboio estava viajando do Curdistão – Erbil para Salah al-Din, na região de Uwaynat. Este ataque pretende enviar uma mensagem às forças americanas de que eles não poderão percorrer o Iraque porque para eles esta terra agora é insegura, assim como suas próprias bases militares.
Uma declaração emitida por uma terceira nova organização iraquiana chamada “Facções de Resistência Islâmica – Iraque – o punho de guia” acusa a América de se preparar para lançar um ataque contra as facções iraquianas e dá aos embaixadores americanos e britânicos 48 horas para sair, ou seriam mortos. Não foi possível confirmar a autenticidade da declaração.

Espera-se que mais organizações surjam no Iraque, desfrutando de aparatos militares, de mídia e organizacionais. Sem dúvida, eles se beneficiaram dos longos anos de guerra no Líbano entre o Hezbollah e Israel, na Síria contra a Al-Qaeda e o ISIS (Estado Islâmico) e no Iraque contra os EUA durante a invasão 2003-2011, também contra o ISIS após a ocupação de um terço do Iraque em 2014.
Essas organizações buscam vingança contra os EUA, que assassinaram o líder do General do Eixo da Resistência, Qassim Soleimani, o comandante de campo das “Forças de Mobilização Popular” (PMF) Abu Mahdi Al-Muhandis, e que bombardearam várias bases do exército iraquiano, sua polícia federal e a PMF em al-Qaem, além de destruírem o Aeroporto Civil de Karbala. A violação dos EUA do memorando de acordo assinado em 2014 exasperou as autoridades políticas e militares iraquianas e muitos outros grupos de resistência.
O embaixador dos EUA visitou o primeiro-ministro interino Adil Abdul-Mahdi para informá-lo sobre sua decisão de deixar o Iraque e propõe uma grande reunião no próximo mês de junho para acordar o mecanismo de saída do Iraque. O embaixador pediu a Abdul Mahdi que intervenha para interromper todos os ataques contra as forças americanas e mediar com o Irã para conseguir isso, porque “os EUA levam a sério a possibilidade de prosseguir com a saída do Iraque”.

As Brigadas Iraquianas do Hezbollah, a Liga dos Justos (AsaebAhl al-Haq), o Movimento Al-Nujabaa e as Brigadas Imam Ali responderam ao pedido iraniano de abster-se de se opor a al-Kazemi, apesar da falta de confiança na intenção dos EUA de se retirar. Essas facções prometeram não atacar as tropas americanas desde que mostrem que estão retirando suas forças do país. Assim, o surgimento de novas organizações visa oferecer uma desculpa a esses grupos, que aparentemente não estão envolvidos em nenhum ataque e que estão “encorajando” os EUA a sair. Esses grupos são desconhecidos e novos no cenário iraquiano. Portanto, é fácil evitar a pressão dos oficiais em Bagdá.
No entanto, o estilo dessas organizações nos lembra a “organização Jihad Islâmica” que surgiu nos anos 1980, foi responsável pelo seqüestro de reféns no Líbano e trabalhou diretamente sob o comando do Irã. Não estava conectada ao “Hezbollah” libanês na época.
Parece que os EUA não leram com atenção suficiente as mensagens iranianas após o assassinato do líder do Eixo da Resistência. Quando Sayyed Ali Khamenei disse: “O preço do assassinato de Qassem Soleimani e Abu Mahdi Al-Muhandis é a saída dos EUA do oeste da Ásia”, isso significava que a decisão havia sido tomada para forçar os EUA a sair a qualquer custo.

Quando Sayyid Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah libanês e líder do “Eixo da Resistência” no Líbano, Gaza, Síria, Iraque e Iêmen, disse que “todo soldado americano é um alvo legítimo” e ele se perguntou, ao dirigir sua pergunta para os EUA, “o que você tem feito? Você está ciente do sangue que derramou?” Sua mensagem era clara: “O Hezbollah não ficará ocioso e terá como alvo todos os soldados dos EUA”. Sayyed Nasrallah disse especificamente: “O Iraque é o campo da batalha”.
Tirar os EUA do leste da Ásia é o objetivo. Os métodos usados pela resistência iraquiana não serão diferentes dos métodos usados contra Israel no Líbano, na Síria e no Iraque durante a última década. Eles serão empregados até o último soldado americano deixar o Iraque.
Elijah J Magnier é correspondente de guerra veterano e analista de risco político sênior com mais de três décadas de experiência
Published here: http://www.dossiersul.com.br/a-resistencia-ataca-os-eua-que-buscam-uma-tregua-no-iraque
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