
Elijah J. Magnier
Trad. : Alan Regis Dantas
O presidente francês Emmanuel Macron não quer que sua iniciativa para o Líbano fracasse. Seu percurso inicial não foi bem-sucedido porque ele não possuía a perspicácia política necessária para enfrentar as artimanhas dos políticos libaneses. Macron acreditava erroneamente que o “peso” da França era suficiente para que todos estivessem “alinhados” e cumprissem as ordens do “professor” francês. O Presidente não percebeu que existem muitos “professores” políticos no Líbano que insistem em implementar suas agendas e interesses, apesar da grave crise financeira. Macron retificou o rumo de sua iniciativa, encorajando e apoiando Saad Hariri a formar um “governo de resgate” que deveria permanecer por apenas 6 meses. Na realidade, espera-se que Hariri lidere o governo até as próximas eleições em 2022.
Qual é o estado das eleições agora, e como as alianças entre os partidos políticos foram reestruturadas?
Pela primeira vez, o ex-Primeiro Ministro Saad Hariri apareceu, organizando o jogo por todos os lados como ele queria. Ele “queimou” todos os candidatos anteriores, incluindo o Primeiro Ministro Hassan Diab (e foi assistido eficientemente pelo Presidente do Parlamento Nabih Berri desde o dia em que Diab entrou no Parlamento). Hariri adotou a mesma política mesmo com o candidato do Presidente francês, Embaixador Mustafa Adib, sobrecarregando-o com condições impossíveis que levaram ao seu fracasso. O ex-PM interrompeu a própria iniciativa francesa, culpando a dupla xiita (Hezbollah e Amal – o grupo liderado pelo Presidente Berri) que insistiu em nomear o Ministro das Finanças. De fato, a dupla ainda quer este cargo, mas eles não eram o único grupo político com exigências específicas. A decisão da ‘dupla xiita’ salvou Hariri detonando o posto de Adib e permitindo ao líder do ‘Movimento Patriótico Livre’ (FPM) esconder seus pedidos ao nomear seus candidatos para o novo gabinete.
Hoje, porém, o ‘jogo político’ não está mais debaixo da mesa: Hariri – a quem foi concedido o status de não oposição da Arábia Saudita para se tornar primeiro-ministro – anunciou que queria este cargo por todos os meios. O ex-Primeiro Ministro está ciente de que só poderá formar um gabinete se fizer um acordo com a “dupla xiita” para garantir a maioria dos votos no Parlamento e não o “bloco majoritário” (que inclui a dupla xiita e o Movimento Patriótico Livre e seus aliados). A Câmara dos Deputados testemunha hoje uma mudança de alianças e uma forte divisão interna. Diferenças fundamentais e até ideológicas entre antigos aliados aparecem agora na superfície.
Hariri aproveitou a oportunidade para se aproximar da “dupla Shia” e concordar com o ministro das finanças e seus outros ministros – desde que eles sejam tecnocratas e especialistas em seu campo. Isto significa que ele cumpriu o primeiro passo que precisava para retornar como Primeiro Ministro, especialmente porque o Presidente Berri garantiu que vários representantes cristãos votassem no PM, para que Hariri mantivesse o pacto e o consenso. Isto, é claro, não será mais válido se e quando a maioria dos cristãos estiver fora do novo gabinete, como eles podem estar.
Saad Hariri sabe como trazer o líder Druse Walid Jumblatt para o seu lado, assegurando sua participação no novo governo. Assim, Hariri é capaz de alcançar uma vitória política sobre seu arqui-inimigo político Gebran Bassil, ignorando-o e rejeitando as exigências de seu gabinete.
O Presidente da República, Michel Aoun, adiou as eleições parlamentares que estavam, e ainda estão, tentando nomear Hariri como Primeiro Ministro. Aoun acomodou Bassil, seu genro, que estava isolado por seu aliado político – o Hezbollah – não querendo desta vez apoiá-lo, como fez na formação do governo anterior. A relação entre Basil e o Hezbollah sofreu grandes diferenças no ano passado, incluindo ” golpes abaixo da cintura”. Estes ataques agora não são mais a exclusividade de um parceiro e não do outro.
Entretanto, o adiamento das eleições parlamentares para a nomeação do Hariri trouxe o ressentimento do Presidente do Parlamento Nabih Berri, que nutre pouca simpatia pelo Presidente Aoun e seu genro. Não houve justificativas endossadas para adiar as consultas, exceto a tentativa de proteger Basil e permitir que ele, por mais uma semana final, tentasse garantir um lugar no próximo governo. Bassil insistia em manter o Ministério de Energia, um pedido que Hariri não estava pronto para aceitar. Bassil não percebe que atualmente não há ninguém entre os líderes políticos e influentes preparados para permitir que ele tenha sucesso neste ministério (mesmo que ele tenha sido o responsável por anos).
Não há razão constitucional que obrigue Hariri a satisfazer os desejos de Bassil, especialmente desde que a França interveio para expressar seu descontentamento com o atraso. O Presidente francês propôs energicamente que não seriam tolerados mais atrasos, e que na próxima quinta-feira o Primeiro Ministro (Saad Hariri) teria que ser nomeado. Esta briga está revelando o fato de que a “dupla xiita” não foi a única que insistiu em nomear representantes no gabinete, outras partes querem sua parte.
Hariri respondeu positivamente aos xiitas, drusos e sunitas, e deixou de fora os principais grupos cristãos – o líder das “Forças Libanesas” Samir Geagea e Gebran Bassil – por isso eles se destacam como aqueles dispostos a obstruir este governo de “reforma e salvação”.
Mas isso significa que o acordo entre o FPM (liderada por Bassil) e o Hezbollah terminou?
A aliança que o Secretário-Geral do Hezbollah Sayyed Hassan Nasrallah assinou com o chefe do Movimento Patriótico Livre (FPM), General Michel Aoun (conhecido como o Acordo Mar Mikhael) em 2006 mudou sua compleição quando seu líder cristão, que se tornou Presidente da República, deu a liderança de seu partido ao seu genro Gebran Bassil.
O Hezbollah considerou que a “dívida” para com o General Aoun (quando Aoun ficou ao lado do Hezbollah durante a segunda guerra israelense no Líbano em 2006) havia sido cumprida. O Hezbollah congelou o país por mais de dois anos e meio, bloqueando a nomeação de um presidente, não obstante a existência do esforço regional e internacional que rejeitou a candidatura do General Aoun. Certamente, as disputas são toleradas e sempre ocorrem dentro de uma aliança porque não se trata de uma única parte e existem diferenças perceptíveis.
Entretanto, estas diferenças não foram organizadas adequadamente para manter a unidade política e a solidariedade durante todo o processo. As duas partes se beneficiaram uma da outra e mostraram que podiam ser separadas. Nas últimas eleições parlamentares, Gebran Bassil quis enfrentar seu aliado Hezbollah em numerosas regiões, permitindo a Samir Geagea a vitória de 15 deputados e a perda do Hezbollah em Jbeil. É claro que a aliança Geagea-Bassil durante as eleições desmoronou rapidamente quando o FPM não cumpriu suas promessas à FL uma vez que os resultados das eleições foram divulgados. A luta em torno da “liderança cristã” continua a ser uma saga contínua entre os dois líderes. Foi isto que trouxe Bassil de volta ao Hezbollah, apesar desta cisão temporária.
No entanto, parece que Bassil acredita que pode escapar do “flerte” com Israel (afirmando que não há diferenças ideológicas com os israelenses), facilitando a libertação de Amer al-Fakhoury, o “açougueiro de Kiyam” (quando o chefe do Exército, nomeado pelo Presidente, pressionou o chefe geral do tribunal militar para uma libertação temporária permitindo que al-Fakhoury chegasse à embaixada dos EUA onde foi contrabandeado para fora do país), promovendo “negociações diretas” com Israel (como disse o membro do parlamento do FPM Ziad Aswad); e formando uma delegação à disputa de negociações marítimas com membros políticos para agradar à administração dos EUA. Aos olhos do Hezbollah, Gebran Bassil cruzou todas
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