Como os Estados Unidos têm administrado sua batalha contra a Rússia desde 1991, e quando ela vai terminar?

Elijah J. Magnier

Trad. Alan Dantas

Desde a “declaração” da guerra EUA-Rússia em território ucraniano, o Mundo tem sido dividido em dois pólos. Um favorece os EUA, e seus aliados ocidentais se arrastam contra a Rússia. O outro representa o resto do mundo que não concorda ou mesmo se opõe às políticas dos EUA e ao seu unilateralismo, que trava guerras e sanções econômicas indiscriminadamente contra populações inteiras. Isso não exclui muitos países que não estão em condições de tomar partido e preferem ficar a uma distância equitativa entre os EUA e a Rússia, observando como a batalha se desenrolará. Permanecer neutro significa que o relacionamento com os EUA não é uma questão de escolha, mas muito provavelmente uma necessidade, para evitar medidas de retaliação que estariam além da capacidade dos estados neutros. Em meio a esta guerra contínua que definirá o futuro do mundo e suas polaridades, o papel das Nações Unidas caiu no limbo ou congelou por um período indefinido, uma vez que não tem voz na guerra em curso entre as duas superpotências. O resultado é que as leis internacionais e a atual “ordem mundial” estão navegando em um navio com vários capitães com diferentes interpretações instáveis e tendenciosas da lei. Cada capitão está agindo por seu capricho e promulgando leis que lhe convêm e servem à sua segurança nacional e aos interesses de seu país, desconsiderando o bem-estar de bilhões de habitantes do mundo. Então, qual é a diferença entre a Rússia e os EUA no final?

Os EUA travaram guerras em múltiplas frentes imediatamente após a Segunda Guerra Mundial e nunca cessaram, mesmo durante a Guerra Fria, que produziu duas superpotências vencedoras principais que continuaram batalhando por sua posição internacional: os EUA e a União Soviética. A “guerra contra o comunismo” americana começou derrubando ou lutando contra todos os regimes pró-Moscou em muitos continentes e apressando-se a estabelecer uma base militar para combatê-la. A União Soviética implantou forças em países mais fracos, exauridos da Segunda Guerra Mundial, e assumiu o controle de nações na linha da expansão dos EUA. Washington apertou seu controle sobre o Ocidente e criou áreas de influência na América Latina, África, Austrália, Europa e Oriente Médio (Israel), onde muitas nações árabes estiveram do lado de Moscou por décadas, especialmente os palestinos e os países do Levante, Mesopotâmia e Egito.

Após a queda da Perestroika em 1991, tornou-se claro para os EUA que a União Soviética não seria mais um concorrente por um período prolongado. O sistema socialista soviético entrou em colapso após seu limitado crescimento econômico, o custo financeiro de manter a influência na Europa Oriental, a corrida armamentista nuclear e as consequências da guerra do Afeganistão e do desastre nuclear de Chornobyl, para citar apenas algumas. Moscou decidiu cessar sua animosidade e competição com os EUA e abandonar vários países sob seu controle na Europa Oriental que os EUA acolheram de braços abertos em um modelo de domínio diferente e mais suave. Washington estabeleceu o sistema financeiro do SWIFT para transferência de dinheiro e sua presença militar em mais de 750 bases espalhadas em 80 países preparou e conseguiu permanecer como a única superpotência a liderar o mundo. O urso russo recuou até sua toca para reconstruir sua economia em colapso e restaurar sua força. De fato, possuir somente milhares de bombas nucleares não eleva nenhum país ao nível do clube da superpotência.

A Rússia levou mais de duas décadas para construir e restaurar a maior parte de sua força. Durante esse período, o domínio mundial permaneceu inquestionável em Washington. A nova Rússia que emanou depois da Perestroika apoiou as decisões dos EUA em fóruns internacionais e no Conselho de Segurança da ONU, inclusive fornecendo-lhe uma base militar para sua guerra no Afeganistão e helicópteros para combater o Talibã. A Rússia foi efetivamente considerada uma parte essencial – e não um membro para perder seu direito de veto – da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Washington ignorou os repetidos “gritos graves mas fracos” de Moscou, exigindo que a OTAN fosse mantida em apenas 12 países e que fosse dissolvida após o abandono do “Pacto de Varsóvia” por parte da Rússia. No entanto, os EUA começaram a expandir a OTAN até chegar a um total de trinta países.

Os EUA começaram a estender sua influência em torno da Rússia na Ásia e na Europa Oriental. Além disso, em 2000, planejou invadir sete países depois do Afeganistão (Iraque, Síria, Líbano, Líbia, Sudão, Somália e Irã), disse o ex-comandante Supremo Aliado da OTAN e candidato à presidência, General Wesley Clark. Ele conseguiu ocupar o Afeganistão, o Iraque, a Líbia e parte da Síria, independentemente do sucesso ou fracasso de suas guerras, que de fato não conseguiram conter a vontade dessas populações e submetê-las à influência dos EUA.

A administração dos EUA – vendo a Rússia se recuperar e se transformar em um país forte e um parceiro econômico da Europa – queria preceder Moscou e dominar os países do Oriente Médio para que a Rússia não encontrasse lugar para ampliar sua influência. As populações em  muitos continentes ficaram indignadas e tomaram uma posição contra os EUA. Centenas de milhares de vítimas em todo o mundo foram produzidas por cada uma das guerras dos EUA. Entretanto, Washington fez ouvidos moucos através de sua política do “America First”, ignorando o sofrimento que causou. Isso favoreceu a Rússia 
e a China, que surgiram como potenciais desafiadoras da brutal hegemonia dos EUA e de seu formidável aparato militar. 

Os EUA ficaram preocupados enquanto observavam como a China estava ficando mais próspera, expandindo sua tecnologia e construindo sua potência ao mesmo tempo em que fortaleciam seus laços com a Rússia – que estendeu cinco gasodutos para o rico continente europeu que então se tornou dependente da energia de Moscou.

O continente europeu contribui com grandes somas para o tesouro russo, totalizando um bilhão de dólares por mês em energia (desde a guerra na Ucrânia), minerais e outros produtos russos. O que era preocupante para os EUA eram as vozes da França dizendo que a OTAN tinha sofrido uma “morte cerebral” e que a Europa precisava de seu exército para substituir a OTAN e proteger a Europa, mesmo dos EUA, como disse especificamente o presidente Emmanuel Macron. 

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