Até onde irão os EUA para confrontar a Rússia na Ucrânia?

Elijah J. Magnier

Trad. Alan Dantas

À medida que o ataque russo ao território ucraniano se desenrolava, a maioria das embaixadas em Kiev se retirou na expectativa de uma vitória rápida e esmagadora do Kremlin. No entanto, logo ficou claro para os Estados Unidos que o exército russo não estava preparado e equipado para travar uma guerra em um terreno tão vasto e hostil e enfrentar uma resistência severa. As forças ucranianas lideradas pelos EUA, treinadas desde 2014 para combater o exército russo e bem versadas em táticas de guerra modernas, expuseram graves deficiências nas linhas de suprimento logístico do exército russo. Os EUA aproveitaram a oportunidade, garantiram à Ucrânia seu apoio inabalável e prometeram torná-la parte do bloco ocidental quando a Rússia fosse derrotada. Como nem os EUA nem a Rússia podem se dar ao luxo de perder a guerra, permanece o medo da determinação de Washington de forçar a Rússia a usar armas não convencionais.

Nas primeiras semanas antes da guerra, os EUA reagiram rapidamente, estabelecendo um centro de operações em Ramstein, na Alemanha, para monitorar e dirigir o esforço de guerra, e planejando cortar todos os vínculos comerciais e energéticos entre a Europa e a Rússia. A diplomacia americana trabalhou incansavelmente para persuadir os líderes europeus, que até então desconfiavam do presidente Vladimir Putin, a reunir seus recursos em torno dos EUA e assumir uma posição firme contra a Rússia. Os EUA prometeram a seus parceiros europeus, antigos senhores coloniais, que a Rússia do pós-guerra seria transformada de forma semelhante à que ocorreu após a invasão soviética do Afeganistão em 1979. Eles garantiram que a Rússia seria dividida em províncias, que Putin seria substituído e que uma das regiões mais ricas em recursos do mundo seria dividida. A perspectiva de compartilhar os espólios de guerra atraiu as nações europeias, que haviam sofrido anos de pressão econômica devido à pandemia da COVID-19 e estavam ansiosas para reavivar suas economias. Embora muitos hesitassem nos primeiros meses da guerra, o fraco desempenho do exército russo nos estágios iniciais convenceu as nações europeias a unir forças, pois ninguém queria ficar de fora da divisão do bolo russo.

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No entanto, a guerra não saiu como planejado para os EUA ou para a Rússia. O presidente dos EUA, Joe Biden, resumiu suas intenções de forma sucinta: “Não se trata da Ucrânia. É sobre a Europa Oriental. Tem a ver com a OTAN”. Essa declaração sugere que os EUA estão preparados para fazer o que for preciso para continuar a guerra e até aceitariam uma resposta nuclear da Rússia para reunir os 75% das nações que se recusaram a impor sanções à Rússia. Os EUA queriam reafirmar seu domínio sobre a Europa – como afirmou Biden – que estava escapando de seu controle. A Europa – como declarou o presidente francês Emanuel Macron – planejava desmantelar a OTAN e ter seu próprio exército, apesar das centenas de bases militares dos EUA espalhadas pelo continente desde a Segunda Guerra Mundial.

Quando os EUA começaram a fornecer armas para a Ucrânia, fizeram isso com base nas necessidades precisas do campo de batalha e na eficácia das forças russas, conforme planejado pelos militares de 50 nações em Ramstein, usando todas as fontes de inteligência eletrônica e humana disponíveis. Os EUA afirmam estar dirigindo a guerra a partir de Ramstein, e Victoria Nuland confirmou há alguns dias que seu país está se preparando para um contra-ataque há quatro ou cinco meses. 

Essa declaração confirma que, embora culpem as forças ucranianas ou os separatistas russos, os EUA fizeram uma campanha ativa dentro da Rússia, atingindo vários alvos em diferentes cidades russas. Os EUA usam a guerra de guerrilha, desta vez por meio de representantes ucranianos em vez de jihadistas, como fizeram no Afeganistão na década de 1980. O objetivo é humilhar a Rússia internamente, levá-la ainda mais fundo em um possível atoleiro nas frentes internas e fronteiriças e manter as forças russas na Ucrânia pelo maior tempo possível, mesmo que, após 15 meses, os EUA não tenham conseguido atingir seus objetivos.

Na verdade, o general de quatro estrelas dos EUA Christopher Cavoli, comandante geral do Exército dos EUA na Europa e na África, afirmou que as forças terrestres russas haviam se deteriorado durante o conflito. Entretanto, agora elas são mais significativas do que no início da guerra. Isso sugere que a Rússia está preparando um exército maior para uma batalha prolongada, possivelmente em várias frentes, se necessário, ou para proteger suas fronteiras no Ártico, especialmente porque a Finlândia aderiu à OTAN e espera-se que a Suécia faça o mesmo quando a Turquia concordar. O general Cavoli também observou que “a força aérea russa perdeu 80 aviões, mas ainda tem 1.000 caças e caças-bombardeiros, e a marinha perdeu apenas um navio”.

Os comandantes dos EUA responsáveis pela guerra contra a Rússia não podem negar o que Celeste Wallander, secretária assistente de defesa dos EUA para assuntos internacionais, apontou durante uma audiência compartilhada do Comitê de Serviços Armados da Câmara. Em resposta a uma pergunta do deputado Joe Courtney, Wallander reconheceu que “a Rússia mantém capacidades estratégicas, incluindo uma força aérea, capacidades cibernéticas, capacidades submarinas… Não devemos subestimar suas capacidades militares porque as consequências de um erro de cálculo são muito significativas”.

Apesar desse reconhecimento, os comandantes e políticos dos EUA se abstiveram de discutir abertamente a realidade de que a Rússia sempre confiará em sua dissuasão nuclear e não tolerará perder essa guerra se seu poder militar convencional for enfraquecido. Mas esse fato é de pouca preocupação para a Casa Branca, que forneceu à Ucrânia e a seus aliados ocidentais interceptadores suficientes para paralisar uma força aérea russa que parece muito menos ativa em relação às suas vastas capacidades. Os EUA e seus aliados prometeram fornecer à Ucrânia 48 caças F-16, o que não seria um divisor de águas em um confronto com a força aérea russa. Essa realidade não deve levar Moscou à beira da perda de controle, nem deve intimidar o presidente Putin.

A questão permanece: Até onde os EUA estão dispostos a ir? Armarão a Ucrânia com bombas de urânio empobrecido para provocar a Rússia a usar seu arsenal nuclear? Até o momento, nada tirou o presidente russo de sua zona de conforto. Mas há limites para a tolerância da Rússia, e perder essa guerra para a coalizão de 50 nações liderada pelos EUA não é uma opção que nenhum dos lados esteja preparado para considerar, elevando os riscos desse conflito a um nível perigoso.

Não está claro até que ponto os EUA aumentarão o conflito. A possibilidade de atrair a Rússia para uma guerra prolongada e com várias frentes e o possível uso da dissuasão nuclear criam uma situação instável que traz riscos significativos para ambos os lados. À medida que o conflito continua, o mundo observa com a respiração suspensa, consciente das consequências potencialmente catastróficas desse confronto de alto risco e do potencial dos erros que podem ter consequências não intencionais.

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