O Iraque está caminhando para o caos?

Elijah J. Magnier

Trad. Alan Dantas

Após oito meses de disputas políticas, Sayyed Muqtada al-Sadr desceu da árvore e virou a mesa, pedindo a seus 73 deputados que apresentassem sua exoneração como um primeiro passo. Este passo seria seguido de etapas escalatórias no devido tempo, como parte da política habitual de Moqtada, em direção à sua opção preferida: chamar seus seguidores para as ruas e conseguir a reeleição parlamentar, esperando obter uma maioria para governar o Iraque sem ser contestado por outros grupos xiitas. Isto não pode acontecer da noite para o dia sem algum tipo de confronto que sem dúvida criará caos, instabilidade e tumulto interno no Iraque.

Após os resultados das eleições parlamentares, onde o movimento Sadrista ganhou 73 das 329 cadeiras, representando o maior número entre todos os partidos políticos, Muqtada al-Sadr acreditava ter ganho as eleições. Consequentemente, pensou que tinha o direito de escolher o Presidente do Congresso, o Presidente e o Primeiro Ministro, de acordo com uma aliança sunita curda. O líder sadrista excluiu todos os outros partidos xiitas para se tornar o único governante xiita do Iraque. No entanto, ele tomou a iniciativa de visitar todos os partidos xiitas. Pediu-lhes que se juntassem a ele sem o ex-Primeiro Ministro Nuri al-Maliki (Moqtada retirou o veto a al-Maliki mais tarde, mas a animosidade permaneceu).

Al-Sadr fez isso somente porque os partidos aos quais ele solicitou a juntar-se a seu grupo eram frágeis sem Al-Maliki e, portanto, mais fáceis de controlar. Sayyed Moqtada acreditava que seu acordo de solidariedade pré-eleitoral com Hadi al-Amiri (o líder do grupo “al-Fatah” que goza de popularidade e da estatura política que al-Sadr aprecia) seria um movimento inteligente para manter distância de outros partidos xiitas leais ao Irã. Entretanto, Al-Amiri vetou o acordo e aderiu à coalizão dos partidos xiitas coletivamente sob o “Quadro de Coordenação”. Posteriormente, foi formado um bloco xiita, pedindo a Al-Sadr que se juntasse aos grupos para participar do governo de acordo com seu “tamanho parlamentar”. Isto é precisamente o que o líder Sadrista havia rejeitado desde o início.

Entretanto, Sayyed Muqtada notou a influência que Maliki havia construído ao longo de seus dois mandatos como primeiro-ministro. Isto apareceu na primeira reunião da Câmara dos Deputados quando o Presidente Mahmoud al-Mashhadani deixou a sessão a fim de interrompê-la depois de acusar um dos deputados Sadristas de agredi-lo. O objetivo era implodir a reunião e impedir Moqtada de auto-declarar o maior grupo a seus deputados. Entretanto, o Tribunal Federal decidiu que seria legal que outro presidente, o mais velho depois de al-Mash’hadani, assumisse e assegurasse a sessão. Al-Sadr elogiou a decisão da corte, que declarou a legalidade de ratificar todos os deputados assumindo suas funções.

Entretanto, Sayyed Moqtada atacou abertamente o Irã antes, durante e depois das eleições sem falar em seu nome diretamente, usando a palavra “Leste” como um símbolo da posição geográfica do Irã em relação ao Iraque. A atitude agressiva de Moqtada fez mexeu no sentimento de seus seguidores apesar do envio de emissários a Teerã e ao Líbano, que estão em contato constante com funcionários que influenciam o Iraque e podem usar suas relações para remover obstáculos, se solicitado.

A Corte Federal interferiu novamente, mas desta vez não a favor de Sayyed Moqtada, oferecendo sua interpretação da “maior coligação política parlamentar”. De acordo com a Corte Federal, o maior bloco pode ser formado por parlamentares independentes e blocos políticos que se reúnem sob a cúpula do Parlamento em uma única grande coalizão. Esta coalizão ainda pode ser criada mesmo após a eleição do Presidente da República, mas antes da nomeação do candidato a primeiro-ministro. A interpretação jurídica da Corte Federal resultou na perda de Muqtada do maior bloco parlamentar, conquistado com 73 deputados. A interpretação da Corte Federal sem dúvida serviu ao interesse do “quadro de coordenação”, dando-lhe a oportunidade – ainda que em vão – de tentar se aliar aos independentes, sunitas e curdos para derrotar al-Sadr.

Sayyed Muqtada não hesitou em se aliar com o líder curdo Masoud Barzani, o Presidente do Parlamento, o sunita Muhammad al-Halbousi e o líder sunita Khamis Khanjar para contrariar a decisão do tribunal federal. 

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